segunda-feira, 16 de julho de 2007

A noite pelas ruas
como um prolongamento inverso de minha sombra
rastejo colado ao solo
sobre os paralelepípedos
as poças
a grama

Na frente
ao lado
atrás
nunca dentro de mim mesmo

Minhas pernas
meu coração
andarilhos
e minha alma enterrada aos teus pés
nessa terra-queimada que você
revolve com os dedos
ama

A memória ondeia
não tão absoluta quanto o mar:

você
minha infância neolítica
e suas pedras multicores-multiformes
suas conchas
xícara de porcelana chinesa
seu prato de sopa poético
não falo da poética social...
Falo dos conjuntos de pequenos círculos de óleo
amarelo boiando
dos pedacinhos moles de macarrão e salsa
dessa água colorida
grossa e doce
onde bebes teus próprios lábios

Tua alma
um prato de sopa.

(1982)

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